segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O que é isso, companheiro?

Se você é viajante brasileira solitária, com grupo de amigas ou até mesmo acompanhada; prepare-se: você vai receber muitos pedidos de casamento em Cuba. De todos os tipos. Há os simpáticos, os fofos, os engraçados... mas a maioria é mesmo desesperada, chegando a ser até descortez. Não se empolgue e ache que vive um momento de grande charme, simpatia e sedução. Não importa seu tipo físico, cor da pele, corte de cabelo e sorriso sincero; os pedidos são direcionados a qualquer uma.

Casa de la Música, Trinidad
(foto: Adriana Bittencourt)

Tentando descobrir o porquê desse comportamento dos cubanos - já que eu, Adri, Bel e Mari recebemos as tais propostas em quase todas as cidades que passamos (Havana, Trinidad, Cayo Guillermo e Santiago de Cuba) - começamos a analisar e até mesmo a perguntar aos ditos cujos e a outros amigos cubanos.

Há alguns fatores que identificamos:

1. O Brasil é um país muito querido

Não só pela real semelhança entre características gerais dos dois povos (o cubano é festivo, alegre, simpático, falante), como também pelo interesse gerado neles sobre a nossa vida pela política (um trabalhador operário como presidente) e pelas novelas. Os cubanos - homens e mulheres - são apaixonados pelas novelas brasileiras. Assistem a todas. Atualmente, está no ar 'La Favorita', trama de João Emanuel Carneiro (2008/2009) que consagrou Flora e Donatela e fez grudar igual a chiclete na nossa cabeça aquela música chatérrima 'Beijinho Doce'.

Há até um mercado negro em Cuba que faz circular DVDs piratas com o final da novela (dublado em espanhol). A dona da casa que ficamos em Havana conseguiu um desses e assistiu, feliz e orgulhosa, ao desfecho da história e adorou comentar conosco o final da vilã Flora.

2. Não é comum ver turistas brasileiros em Cuba

Ir a Cuba é caro para nós brasileiros. O CUC - a moeda do turista - é quase como o euro. Ou seja, mais que o dobro do nosso real. Por isso, escolher como destino de suas férias a ilha de Cuba, é saber que vai gastar pouco menos do que uma viagem à Europa.

Avalio, então, que por este motivo e também pelo desconhecimento por parte dos brasileiros das maravilhas naturais, culturais e arquitetônicas que o país socialista possui (arrisco dizer até que há um certo preconceito também), este não é um destino prioritário do turista brazuca. Para se ter uma ideia, no resort que ficamos em Cayo Guillermo, de quase 300 hóspedes, éramos os únicos 5 brasileiros por lá. Arrisco a dizer que os únicos em muito tempo, visto que alguns funcionários cubanos diziam todos animados que "nunca tinham conhecido um brasileiro" (quase esticando o dedo para tocar e ver se era de verdade. Espertinho, não!)

3. Estereótipo de que a brasileira é caliente

Reforçado pela imagem passada pelas novelas e pela não-convivência com brasileiros reais, os cubanos têm uma imagem estereotipada de nós. Aquele clássico clichê de as mulheres mais bonitas, voluptuosas, receptivas e disponíveis ao sexo (leia-se DADAS); passado ao mundo há décadas. Houve uma situação em que um funcionário de um bar na Playa Ancón, em Trinidad, perguntou se iríamos fazer topless ali, já que a prática era comum no Brasil (Espertinho no. 2, não!). Explicamos que aquilo era um estereótipo e ele teve que se contentar com o topless da italiana de quatro cadeiras ao lado.

4. Vontade de sair do país

Apesar de toda defesa do modelo socialista feita pelos próprios cubanos, há um desejo real de boa parte deles de "explorar o mundo".


Plaza de La Cathedral

(foto: Naila Oliveira)

Mas sair de Cuba não é simples. Um cubano só pode deixar o país se houver um convite formal de quem o vai receber no exterior. Já tinham nos avisado disso, mas confesso que ficamos impressionadas com a atitude muitas vezes desesperada dos cubanos neste sentido.

Porque, de fato, um casamento com uma brasileira é a real possibilidade de deixar a ilha com facilidade e ir para um país que eles identificam como sendo mais parecido com o deles.

Não foi uma, nem duas, nem três vezes que nós nos deparamos com o bizarro diálogo:

- Oi, de onde você é?
- Do Brasil
- Brasileira? Não quer um noivo cubano, não? Sabemos tratar uma mulher muito bem!

Simples assim, seco, direto e reto.

Um comentário:

  1. Tô adorando as fotos e as histórias e, CLARO, essa do casamento é a melhor. Não tinha nenhum cubano guapo por lá não? Muita vontade de ir tb!

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