sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Trinidad: patrimônio num país socialista

Se fosse lhe dada uma passagem para o desconhecido e de repente se visse teletransportado para a cidade de Trinidad de Cuba, pode apostar comigo... você arriscaria dizer que está em Paraty, a bela cidade histórica do litoral oeste do estado do Rio de Janeiro. A descrição é a mesma para ambas: casario colonial conservado em centro histórico, belas e paradisíacas praias ao redor, prática de mergulho, proximidade de parques nacionais, porto seguro de diversos artistas, estagnação econômica, belezas históricas convivendo com pobreza endêmica.

Não me lembro mais quem nos deu a dica de conhecer Trinidad, mas, de cara, informo que valeu muito a pena. Trinidad é uma das mais bem preservadas cidades coloniais das Américas, mantendo intacta boa parte de sua arquitetura histórica que encantou diversos viajantes, como o geógrafo, naturalista e explorador alemão Alexander von Humboldt (*) - sim, você estudou sobre ele na escola.

Fundada em 23 de dezembro de 1514 por Diego Velázquez, Trinidad tornou-se pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação) - em conjunto com o Vale de los Ingenios - Patrimônio Mundial em 1988.

A sensação ao chegar em Trinidad é que a cidade está parada no tempo e você está de volta a um passado que não viveu. Ficamos apenas dois dias, mas teria optado por permanecer mais para aproveitar o seu ritmo lento, visitar com mais calma os prédios históricos, andar mais pelo entorno e curtir as opções interessantes de restaurantes. Exato! Há tudo isso em Trinidad.

Chegamos de ônibus e fomos recepcionados por uma amiga de Manuela - a dona da casa que nos abrigou. Como já comentamos em outros posts, é comum moradores transformarem suas casas em pousadas para receber os turistas, tudo autorizado e taxado pelo governo cubano. As instalações eram muito superiores às nossas expectativas. Quarto limpo, com suíte, ventilador, cama confortável, espaço e silêncio; tudo por 13 CUCs de diária, incluindo o café-da-manhã (cerca de R$ 30). Como costumo dizer, as viagens são coloridas pelas pessoas que encontramos e o encantamento por Trinidad também tem alguns culpados: a família de Manuela (além dela, a filha, o genro e a neta).

Nos intalamos e fomos comer porque estávamos famintos da viagem. O almoço foi no Via Reale (ranqueado no Lonely Planet), casarão colonial, pé direito altíssimo, jardins internos e mesas de madeira maciça. Comemos entrada, massa honestíssima e muitos mojitos a 13 CUCs. O resto do dia foi aproveitado caminhando pela cidade e se encantando com as cores dos casarões. Como todo turista, é obrigatório parar na Plaza Mayor e visitar os Museus de Arquitetura Colonial, Romântico, de Arqueologia e a Catedral da Santísima Trinidad.

O curioso é que Trinidad nos deu a impressão que tem horários de rush. De manhã, na hora do almoço e no fim da tarde você vê muitas pessoas circulando pelas ruas históricas. Fora desses períodos, não mais! Fica tudo meio deserto e os locais fecham cedo. O ideal é aproveitar bem o dia e descobrir qual o melhor evento pra passar a noite após o jantar. Por falar nessa refeição, na cidade ceiamos em dois bons restaurantes: o paladar Estella (um maravilhoso camarão com abacaxi e garrafa de vinho dada de cortesia por 12 CUCs / R$ 28) e o restaurante La Ceiba (lagosta, sopa, salada e um mojito por 9 CUCs / R$ 21).

Mas não emburaque na bebedeira porque o barato é mesmo aproveitar o dia. De manhã cedo, de hora em hora, sai do centro da cidade um trem que leva até a Playa Ancón por 1CUC. Como quase todas de Cuba, a praia não é para o bico da população local e é frequentada apenas por turistas, que ficam em resorts incríveis de frente para o mar de um turquesa de tirar o fôlego. O local fica a apenas 10km do centro da cidade e o passeio é bastante interessante porque não há como não cruzar as áreas habitadas pelos cubanos. Abra bem os olhos, veja as belezas e sobretudo a realidade da população: não há miséria, mas a pobreza é evidente. No caminho até a praia, a arquitetura colonial preservada dá lugar a construções mambembes, tortas, puxadinhos... o que dá para as famílias fazerem e irem se amontoando conforme as novas gerações vão chegando.

(PAUSA PARA REFLEXÃO: curioso que um país socialista - e que por isso não permite a propriedade privada - tenha uma cidade PATRIMÔNIO MUNDIAL. Talvez se "o mundo" não fosse dono de Trinidad, a cidade não estaria hoje como está. É bela, de todo o mundo, mas não "pertence" a quem mais deveria desfrutá-la: os cubanos. Assim como a praia. Lá eles também não têm como ir)

Respire fundo e prepare-se: o visual é de cair o queixo. A água é maravilhosamente quente e transparente. Instalamo-nos numa das barracas rústicas do resort que domina e comercializa na Playa Ancón e tivemos o nosso primeiro momento de praia da viagem.

Sobre Playa Ancón, deixo que as fotos falem por si:
















COMO CHEGAR
A TRINIDAD

1. DE CARRO

Quem quiser dicas de como chegar a Trinidad de carro de Havana, Varadero ou dos Cayos, vale a pena visitar o site português ROTAS . Lá você vai encontrar dicas muito precisas de como fazer esta escolha e das furadas que pode se meter. Tudo que está lá descrito vai ao encontro do que observamos na nossa aventura de 17 dias por Cuba.

2. DE ÔNIBUS

A viagem de Havana a Trinidad dura 3h30. No mais, postamos sobre a nossa experiência de comprar passagens pela internet aqui.


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(*) Humboldt esteve em Cuba em 1800 e 1804 e escreveu Político na Ilha de Cuba, descrevendo geografia, rios, população, economia, governo e sistema de escravos

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